Nesse último final de semana, aproveitando o feriado da Páscoa, resolvi entrar no espírito do outono, deixar ir o que não é mais essencial e me coloquei a organizar meus armários que guardam muitos de meus pertences, como livros, fotografias, trabalhos de faculdade, planos de aula, petições, pareceres, leis e cartões de aniversario. A grande maioria amarelados pelo tempo, pois guardados há muitos anos. Além da alegria de ver fotos antigas de amigos e familiares e recordar momentos felizes, encontrei duas relíquias: meu querido "diário", companheiro desde os meus 14 anos de idade e um livro muito especial para mim, chamado Ilusões: As aventuras de um Messias Indeciso, de Richard Bach.
É muito bom voltar no tempo e, mesmo que só em pensamento, reviver momentos que tiveram muito significado em minha vida, através da leitura de meu diário e do livro Ilusões, que ganhei de um amigo, pelo meu aniversário, há mais de 30 anos. No livro há uma linda dedicatória, que parafraseava uma parte do mesmo, que diz: "Todas as pessoas, todos os acontecimentos da tua vida estão lá. Porque tu os levaste para lá. O que decidires fazer com eles depende unicamente de ti."
Ao ler a dedicatória, pensei nas escolhas que fazemos diariamente em nossas vidas. Nas escolhas que fiz naquela época e que resultaram no que sou hoje. Não tem como saber, no momento da escolha, o resultado. Temos que esperar o tempo passar. Mas, não é raro ouvirmos as pessoas dizerem: "Se eu pudesse voltar, faria diferente!" A mensagem do livro é que a vida é um filme e que somos nós que escrevemos o roteiro. Portanto, não existe certo ou errado. Existem escolhas e consequências, pois nós é que fazemos a jornada. Na época em que o livro me foi dado de presente, junto a ele, foi-me entregue um rolo de um filme, em branco. Escolhi os personagens e escrevi o roteiro. Passado o tempo, mais de 30 anos, o filme, por certo, ainda não acabou. No entanto, não posso deixar de voltar àquela época, ao momento em que tudo começou. Ao momento em que, conscientemente, decidi escrever o filme.
Claro que um bom filme depende muito da atuação do elenco, pois são muitos os personagens e as pessoas envolvidas. Ele, muitas vezes, sofre com os fenômenos da natureza. Com os imprevistos. Por mais que o roteirista deseje apenas dias ensolarados e de céu azul, as tempestades chegam. Fazem parte da vida e, por vezes, destroem o que foi construído. Aí, surge o momento da reconstrução. Porém, ela somente se efetivará se as bases forem sólidas e houver disposição, compreensão, parceria e companheirismo.
Cheguei à conclusão de que, tão importante quanto às escolhas, é a forma como se trilha o caminho escolhido, como encaramos e transpomos os obstáculos que surgem em cada etapa. Dizer que não chegamos aonde desejamos, por culpa do destino, é muito fácil, pois transferimos a responsabilidade para algo ou alguém. Mas temos que considerar que o destino não reina com exclusividade, há sempre uma cumplicidade do instinto ou da vontade, porque a vida das pessoas não é escrita apenas nas estrelas, ela é escrita na realidade de cada um.
Se passados vários anos, percebemos que aonde chegamos não é o local que buscávamos inicialmente, será que dá para voltar? Será que dá para refazer o caminho? Retornar ao momento inicial da escolha? Reescrever o filme? Acredito que sim, não mais tão jovem quanto da primeira vez, mas em compensação com muito mais experiência, o que vai auxiliar a nova caminhada, pois seremos capazes de assumir novos desafios sem medo do fracasso, ver somente as coisas importantes e significativas, abrindo mão do que não acrescenta. Feliz daquele que tem motivação para recomeçar. Parafraseando o livro "...às vezes isso é tudo o que uma pessoa precisa: poder fechar os olhos, sorrir e acreditar."
E só para constar... o amigo de quem ganhei o livro se tornou o principal personagem do filme da minha vida.